26 maio 2017

O que vejo por aí... #1

A expectativa do novo



Uma cidade com mais de 400 anos, ruas antigas, assim como construções, mas também ruas novas, largas avenidas. Um bebê de colo que dorme com o rosto encostado ao peito da mãe, preso a ela por um tecido que, em um primeiro momento, dá a impressão de desconforto para aqueles que olham de fora, porém é o melhor lugar do mundo para o mais novo habitante da cidade; um senhor com seus 60 anos, olhos preocupados, observando o arredor. Recorda-se de quando não havia nada ali, apenas mato. E agora, de repente, há uma avenida, ônibus o tempo todo, um supermercado, novos empreendimentos, apartamentos... novas vidas habitam aquela região, sonhos, esperança. A renovação toma conta, o início da vida para muitos.

Olhos ansiosos miram o horizonte. Mesmo o tempo estando frio, o sol reina sem obstáculos, num céu azul de final de tarde. A grama sob os pés não está alta, assim como tudo ali, ela também é nova, cresce tímida, aos poucos, como se fosse conhecendo o terreno, vendo se ali realmente é um bom lugar para ficar. Afinal, há tanto asfalto hoje em dia, é difícil ter espaço para seus iguais.

Minutos de espera. Pessoas por ali passam, jovens em sua maioria. Um adolescente com blusa de frio e mochila nas costas. São luvas sem dedos em suas mãos? Deve ser uma nova moda ou seu estilo, nunca se sabe. Dessa vez, passa uma jovem, provavelmente da mesma idade do outro. Também traz sua mochila. Vem mais sorridente, bem feliz pode-se dizer. Os cabelos longos, castanhos e lisos balançam conforme o seu andar.

Carros passam pela portaria. O portão ora abre, ora fecha. Os que passam a pé sorriem para as pessoas ali esperando. “Que bebezinho bonitinho”, dizem com os olhos sem dizer com as palavras.

A espera termina com a chegada daquela que esperam. “Prontos para conhecer?”. Seguem a mulher, que os leva para o novo imóvel, novo tanto em tempo quanto para o casal que ali está. Ansiosos, trocam olhares e finos sorrisos. O senhor vai à frente, mais preocupado com as coisas práticas: vizinhos, estrutura, espaço... O jovem casal apenas tenta não se deslumbrar, criar expectativas. “Pé no chão, lembra?”.

Entrada, elevador, qual o andar? Oitavo. Já gostamos.

Entram. A luz vinda da porta de vidro, que separa a sala da sacada, já ilumina o ambiente. Cozinha, quartos, banheiro, sala, tudo ótimo, tudo novo. E o sol... ele está ali o tempo todo, em todos os lugares.

Não criar expectativa... “Gostou?”, há sim expectativa no olhar. O que será feito se um gostar e o outro não? “Gostei”, e um sorriso sincero.

Os cômodos vazios vão ganhando cor e vida na imaginação. Móveis que talvez nem existam dessa forma tomam o ambiente. Ficará lindo. Passos pelo local. Sim, é pequeno, mas é o que podem pagar.

Novamente a luz entrando pela sacada. A parte que ela mais gosta. Talvez o bebê também goste, mas não se sabe, pois continua a dormir profundamente, como se nada estivesse acontecendo. A vista dali é muito boa. Outros prédios, ruas, avenidas. “Não há o perigo de construírem nada na frente”. Não há mesmo.

O latido vem acompanhado de música enquanto esperam o elevador. Alguém tem um cachorro. Um sorriso de cumplicidade. Playground, piscina, quadra e um beijo materno na cabecinha do bebê. “Você vai gostar daqui”. O tempo firme, o vento fresco, tudo corrobora para que seja um sim.

O caminho de volta até a portaria, mais uma olhada aqui e ali. Um “entrarei em contato”, uma possível dívida para a vida toda. O bebê já será adulto quando terminarem de pagar.

E mais um sorriso. “Gostou?”, “Gostei”.

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