A expectativa do novo
Uma cidade
com mais de 400 anos, ruas antigas, assim como construções, mas também ruas
novas, largas avenidas. Um bebê de colo que dorme com o rosto encostado ao
peito da mãe, preso a ela por um tecido que, em um primeiro momento, dá a
impressão de desconforto para aqueles que olham de fora, porém é o melhor lugar
do mundo para o mais novo habitante da cidade; um senhor com seus 60 anos,
olhos preocupados, observando o arredor. Recorda-se de quando não havia nada
ali, apenas mato. E agora, de repente, há uma avenida, ônibus o tempo todo, um
supermercado, novos empreendimentos, apartamentos... novas vidas habitam aquela
região, sonhos, esperança. A renovação toma conta, o início da vida para
muitos.
Olhos
ansiosos miram o horizonte. Mesmo o tempo estando frio, o sol reina sem
obstáculos, num céu azul de final de tarde. A grama sob os pés não está alta,
assim como tudo ali, ela também é nova, cresce tímida, aos poucos, como se
fosse conhecendo o terreno, vendo se ali realmente é um bom lugar para ficar.
Afinal, há tanto asfalto hoje em dia, é difícil ter espaço para seus iguais.
Minutos de
espera. Pessoas por ali passam, jovens em sua maioria. Um adolescente com blusa
de frio e mochila nas costas. São luvas sem dedos em suas mãos? Deve ser uma
nova moda ou seu estilo, nunca se sabe. Dessa vez, passa uma jovem,
provavelmente da mesma idade do outro. Também traz sua mochila. Vem mais
sorridente, bem feliz pode-se dizer. Os cabelos longos, castanhos e lisos
balançam conforme o seu andar.
Carros
passam pela portaria. O portão ora abre, ora fecha. Os que passam a pé sorriem
para as pessoas ali esperando. “Que bebezinho bonitinho”, dizem com os olhos
sem dizer com as palavras.
A espera
termina com a chegada daquela que esperam. “Prontos para conhecer?”. Seguem a
mulher, que os leva para o novo imóvel, novo tanto em tempo quanto para o casal
que ali está. Ansiosos, trocam olhares e finos sorrisos. O senhor vai à frente,
mais preocupado com as coisas práticas: vizinhos, estrutura, espaço... O jovem
casal apenas tenta não se deslumbrar, criar expectativas. “Pé no chão,
lembra?”.
Entrada,
elevador, qual o andar? Oitavo. Já gostamos.
Entram. A
luz vinda da porta de vidro, que separa a sala da sacada, já ilumina o
ambiente. Cozinha, quartos, banheiro, sala, tudo ótimo, tudo novo. E o sol...
ele está ali o tempo todo, em todos os lugares.
Não criar
expectativa... “Gostou?”, há sim expectativa no olhar. O que será feito se um
gostar e o outro não? “Gostei”, e um sorriso sincero.
Os cômodos
vazios vão ganhando cor e vida na imaginação. Móveis que talvez nem existam
dessa forma tomam o ambiente. Ficará lindo. Passos pelo local. Sim, é pequeno,
mas é o que podem pagar.
Novamente a
luz entrando pela sacada. A parte que ela mais gosta. Talvez o bebê também
goste, mas não se sabe, pois continua a dormir profundamente, como se nada
estivesse acontecendo. A vista dali é muito boa. Outros prédios, ruas,
avenidas. “Não há o perigo de construírem nada na frente”. Não há mesmo.
O latido
vem acompanhado de música enquanto esperam o elevador. Alguém tem um cachorro.
Um sorriso de cumplicidade. Playground,
piscina, quadra e um beijo materno na cabecinha do bebê. “Você vai gostar
daqui”. O tempo firme, o vento fresco, tudo corrobora para que seja um sim.
O caminho de
volta até a portaria, mais uma olhada aqui e ali. Um “entrarei em contato”, uma
possível dívida para a vida toda. O bebê já será adulto quando terminarem de
pagar.
E mais um
sorriso. “Gostou?”, “Gostei”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário